quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Aia

Texto dramático construído a partir do conto “A Aia” de Eça de Queirós

(Em cena estão a Aia, o Rei, a Rainha, o Escravozinho e o Príncipe)
REI – Adeus, minha querida, vou partir para batalhar por terras distantes.
RAINHA – O que vai ser de mim, que fico solitária e triste, sem poder defender o nosso principezinho dos seus ferozes inimigos?
REI – Enquanto eu estiver vivo, ninguém lhe fará mal. Quando eu regressar, o nosso filho será o herdeiro de um reino muito maior e mais importante. Adeus, minha querida e adeus, meu filho (dá um beijo à Rainha e outro ao Príncipe deitado no seu berço real e depois parte, deixando a Rainha triste).
AIA – Pressinto que algo de mau vai acontecer… (amamentando as duas crianças…).
(Entra um Cavaleiro em cena, ensanguentado por uma batalha perdida).
CAVALEIRO – Majestade, trago más notícias. Perdemos a batalha e o nosso rei morreu juntamente com o seu exército.
RAINHA – (Gritando) O que será de mim e do meu Príncipe, que não se pode defender… Ele tem tantos inimigos e o pior é o seu tio, um homem bravio como um lobo, que quer mandar neste reino e nos nossos tesouros. Ele descerá lá dos montes e matá-lo-á para ficar herdeiro do reino.
AIA – Descanse, majestade, que o nosso Rei lá no Céu velará por nós… (enquanto chorava e beijava o príncipe).
RAINHA- Uma roca não governa como uma espada. Eu, uma frágil mulher, não conseguirei comandar um exército para defender o nosso Príncipe….
(A Rainha sai de cena, chorando…)
AIA – Estão a invadir o castelo! É o malvado tio bastardo… (beijando as crianças, troca-as de berço e cobre-as).
(Entra em cena o tio e, olhando para os berços, retira a criança que estava no berço mais rico, fugindo com ela ).
(Entra em cena a rainha, correndo chorosa para o berço onde estaria o seu filho e, ao vê-lo vazio, desmaiou. A Aia pega na rainha pela mão e dirige-se ao berço do seu filho e destapou-o, mostrando o Príncipe, que dormia).
CAPITÃO (entrando) – Matámos o Bastardo, mas o Principezinho também morreu esganado…
RAINHA – O Principezinho está aqui…. (ergueu os braços com o príncipe).
POVO – Quem o salvou? Quem?
RAINHA – Foi a Aia que sacrificou o seu filho em vez do príncipe! (abraçando-a).
POVO – É preciso recompensar esta mulher! Mas como? Que bolsas de ouro podem pagar um filho?
CAPITÃO – Levem-na ao tesouro real para ela escolher as riquezas que quiser.
(Dirigem-se ao tesouro real)
POVO – Ah! Tantas riquezas! Que Jóia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis ela escolherá?
AIA(agarrando um punhal) – Salvei o meu Príncipe. Agora vou dar de mamar ao meu filho! (Crava o punhal no coração).
Jorge Almeida