segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Regras de Acentuação

1) O acento agudo é o mais utilizado em português;

2) O acento grave só se utiliza nestas palavras:


à - resultado da contracção de a + a (exemplo: vou à praia);


àquilo - resultado da contracção a + aquilo;


àquele, àquela, àqueles, àquelas - igualmente resultado da contracção de a + aquele; a + aquela; a + aqueles; a + aquelas;

3) São acentuadas as palavras agudas terminadas em em ou ens com mais de uma sílaba:

- armazém,

- conténs;

e ainda as terminadas em a, e, o seguidas ou não de s:


jogará - jogarás,


café - cafés,


avó - avós;

as terminadas em u não são acentuadas:


peru não é acentuada;

4) São acentuadas as palavras graves terminadas em l, n, r, s, x:


agradável, abdómen, carácter, lápis, Félix;

as terminadas em i, is, us, um, uns:


táxi - táxis,


bónus,


vírus,


álbum, álbuns;

e ainda as terminadas em ei e eis:


jóquei, úteis, fáceis;

5) Todas as palavras esdrúxulas são acentuadas;

6) Não há palavras com dois acentos;

7) Há palavras acentuadas que têm sinal de nasalação:

caso de órgão e Estêvão, sendo o til o sinal de nasalação;

8) A sílaba tónica nas palavras agudas é a última sílaba, nas graves é a penúltima sílaba e nas esdrúxulas é a antepenúltima.

Regras de utilização do hífen

1. para separar as sílabas na translineação.

2. também se usa nos compostos em que entram, foneticamente distintos:

2.1. dois ou mais substantivos, ligados ou não por preposição ou outros elementos: alfinete-de-ama;

2.2. um substantivo e um adjectivo: amor-perfeito;

2.3. um adjectivo e um substantivo: primeiro-ministro;

2.4. dois adjectivos: azul-escuro;

2.5. uma forma verbal e um substantivo: conta-gotas;

2.6. duas formas verbais: ruge-ruge.

3. nos compostos do vocabulário onomástico (nomes próprios), reduz-se o uso do hífen a:

3.1. nomes em que dois elementos se ligam por uma forma de artigo: Trás-os-Montes;

3.2. nomes em que entram os elementos grão e grã: Grã-Bretanha, Grão-Pará;

3.3. nomes em que se combinam simetricamente formas onomásticas: médico-cirurgião.

4. os gentílicos (nomes que indicam procedência ou naturalidade) dos compostos onomásticos levam hífen: cabo-verdiano.

5. usa-se o hífen sempre que existir, à maneira de ligação, a preposição de nas formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver: hei-de.

6. usa-se, igualmente, para ligar pronomes, séries de pronomes e contracções de pronomes aos verbos de que dependem, se forem incliticamente empregados: louvo-o.

Nas formas do futuro ou do condicional, havendo mesóclise (interposição de pronomes nos verbos): di-lo-ei, fá-lo-ei.

7.O hífen também é usado nos vocábulos formados com prefixos como se afirma na Convenção Ortográfica Luso-Brasileira, 1945: «Emprega-se o hífen em palavras formadas com prefixos de origem grega ou latina, ou com outros elementos análogos de origem grega (primitivamente adjectivos), quando convém não os aglutinar aos elementos imediatos, por motivo de clareza ou de expressividade gráfica, por ser preciso evitar má leitura, ou por tal ou tal prefixo ser acentuado graficamente.»
Assim, usa-se nos vocábulos em cuja formação entram os prefixos:
7.1. Além, aquém, pós, pré, recém - Por possuírem acento gráfico: além-mar; aquém-fronteiras, pós-guerra, pré-helénico;
recém-nascido;
7.2. Ante, entre, sobre - Antes de h: ante-histórico; entre-hostil; sobre-humano;
7.3. Anti, arqui, semi - Antes de h, i, r, s: anti-revolução, arqui-secular; semi-inconsciente;
7.4. Auto, contra, extra, infra, neo, proto, pseudo, supra, ultra - Antes de vogal, h, r, s: auto-retrato; contra-almirante, extra-hospital; infra-som; neo-realismo; proto-histórico; pseudo-herança; supra-renal; ultra-rápido;
7.5. Bem -Antes de vogal e h, quando na pronúncia se ouve o ditongo ei: bem-amado;
7.6. Pan, mal - Antes de vogal, h: pan-helénico; mal-humorados;
7.7. Circum - Antes de vogal, h, m, n: circum-navegação;
7.8. Co - Quando tem sentido de a par: co-autor;
7.9. Hiper, inter, super - antes de h, r: hiper-ridículo; inter-hospitalar; super-homem;
7.10. Ex - Quando tem o sentido de estado anterior ou casamento: ex-mulher;
7.11. Pró - Quando significa a favor de: pró-leitura;
7.12. Sem - Quando na sua pronúncia se ouve o ditongo ei: sem-cerimónia;
7.13. Sob, sub - Antes de b, h, r: sob-roda; sub-reino;
7.14. Sota, soto, vice, vizo - Quando o segundo elemento tem vida à parte: sota-almirante; soto-piloto; vice-primeiro-ministro; vizo-rei.»

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Despedidas em Belém

Este excerto d’Os Lusíadas narra-nos a partida dos marinheiros da praia do Restelo e a despedida dos seus familiares e amigos. Dividimo-lo em três partes:

a. Introdução [est. 84-86]: localizada a acção no espaço-tempo, observamos o alvoroço geral dos últimos preparativos para o embarque da “gente marítima e a de Marte” (marinheiros e soldados). Prontas as naus, os nautas reúnem-se em oração na ermida de Nossa Senhora de Belém.

b. Desenvolvimento [est. 87-92] Descreve-se a “procissão solene” do Gama e seus companheiros desde o “santo templo” (ermida) até aos batéis, pelo meio da “gente da cidade”, homens e mulheres, velhos e meninos, com relevo especial para as mães e as esposas. Tanto os que partiam como os que ficavam se entristeciam e a despedida assume grande emotividade. “Porque me deixas, mísera e mesquinha? Porque de mi te vas, ó filho caro,” [est. 90, vv. 5-6].

c. Conclusão [est. 93] Refere-se ao embarque que, por vontade do Gama, se fez sem as despedidas habituais para diminuir o sofrimento, tanto dos que partiam como dos que ficavam.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Grande orgulho!

A Ministra da Educação mostrou-se orgulhosa pelos resultados nos exames nacionais do Ensino básico em 2009, quando a Língua Portuguesa a taxa de INSUCESSO aumentou de 16 para 30% e a média desceu de 3,3 para 2,9!!!... Grandes resultados!

sábado, 13 de junho de 2009

A Palavra Mágica - Vergílio Ferreira

A palavra mágica

Resumo escrito por:Thisblackheart

Silvestre, um pacato viúvo sem filhos, vive numa vila onde todos usufruem da sua boa vontade. Um dia, envolve-se numa discussão com o Ramos da loja, que o trata de inócuo, palavra que ouvira num folhetim.

O rumor faz com que a palavra maldita se espalhe pela freguesia, conotada de sentidos pejorativos e pronunciada de maneiras diversas. Começa por significar vadio, passando a bêbedo na boca da mulher do Paulino. Mais tarde, quando um vigarista vendedor de drogas entra na aldeia, a palavra ganha o sentido de trampolineiro ou ladrão dos finos e, quando o Rainha mata o marido da amante, sendo catalogado com o mesmo termo, “inoque” já significa devasso e assassino.

Como uma bola de neve, a palavra transforma-se num insulto terrível, chegando ao Perdigão dos Cabritos e, meses depois, a um cabeleireiro que chegou à vila, adquirindo então novos significados como parricida, incendiário, pederasta ou escroque, sendo até utilizada para desabafos do género poça ou bolas.

Quando começaram a ser julgadas as primeiras queixas no tribunal da vila contra a injúria de “noque”, “inóque” ou “inóquo”, o juiz, apercebendo-se do verdadeiro significado da palavra, fica incrédulo perante a confusão gerada, pois inócuo significa “que não faz dano, inofensivo”. E foi assim que Bernardino, um dos primeiros queixosos, perdeu a causa.



A palavra mágica Originalmente publicado no Shvoong: http://pt.shvoong.com/books/short-story-novella/1805731-palavra-m%C3%A1gica/

A Palavra Mágica de Vergílio Ferreira




quarta-feira, 10 de junho de 2009

Assobiando à Vontade

Àquela hora o trânsito complicava-se. As lojas, os escritórios, algumas oficinas, atiravam para a rua centenas de pessoas. E as ruas, as praças, as paragens dos eléctricos, que tinham sido planeadas quando não havia nas lojas, nos escritórios e nas oficinas tanta gente, ficavam repletas dum momento para o outro. Nos largos passeios das grandes praças havia encontrões. As pessoas de aprumo tinham de fechar os olhos àquele desacato e não viam remédio senão receber e dar encontrões também e praguejar algumas vezes. Os eléctricos apinhavam-se na linha à frente uns dos outros. Seguiam morosa-mente, carregados até aos estribos e por fora dos estribos, atrás, no salva-vidas, com as tais centenas de pessoas que saltavam àquela hora apressadamente das lojas, dos escritórios, das oficinas. Além disso, nos dias bonitos como aquele, as ruas da Baixa enchiam-se de elegantes que iam dar a sua volta, às cinco horas, pelas lojas de novidades e pelas casas de chá, para matar o tempo de qualquer maneira, ver caras conhecidas, cumprimentar e ser cumprimentadas, e só voltavam a casa à hora de jantar.A multidão propunha uma confraternização à força. Era preciso pedir desculpa ao marçano que se acabava de pisar, implorar às pessoas penduradas no eléctrico que se apertas-sem um pouco mais para se poder arrumar um pé, nada mais que um pé, num cantinho do estribo, muitas vezes sorrir para gente que nunca se tinha visto antes e apetecia insultar. Os elegantes e as elegantes achavam naturalmente tudo isto muito aborrecido. Sobretudo a necessidade absoluta de seguir naquelas plataformas repletas em que não viajavam só cavalheiros, mas muitos homenzinhos pouco correctos e onde esses mesmos homenzinhos e mulheres vulgares deitavam um cheiro insuportável. Que fazer, no entanto, senão atirar-se uma pessoa também para aquele mar de gente que empurrava, furava, pisava e barafustava até chegar ao carro? Que fazer senão empurrar, furar, pisar e barafustar também?O carro seguia morosamente e repleto como os outros. Felizmente, ainda havia alguns homens correctos na cidade e algumas mulherezinhas que conheciam o seu lugar. Só graças a isso as senhoras que tinham arriscado os seus sapatos e os seus chapéus naquela refrega e alguns cavalheiros respeitáveis conseguiam sentar-se.Nos primeiros momentos de viagem, as pessoas voltavam-se nos bancos, preocupadas, tentando ver se o marido, uma amiga, um filho, não teriam ficado em terra. Os que seguiam de pé ousavam dar um passo no interior do carro, a ver se teria ficado algum lugar vago por acaso. Havia logo protestos na plataforma. Depois as pessoas acomodavam-se o melhor que podiam, punham os braços no ar para livrar os embrulhos do aperto, fechavam bem os casacos e as malas onde levavam o dinheiro, o condutor puxava energicamente o cordão da campainha muitas vezes, lotação completa, e o carro arrastava-se em silêncio.Os senhores respeitáveis, com compreensível e muda zanga dos companheiros do lado, começavam a desdobrar os jornais da tarde e a ler as notícias por alto. As senhoras, visivelmente mal dispostas, compunham os chapéus e as golas dos casacos. Tiravam os espelhinhos da mala e passavam tudo em revista: o chapéu, os cabelos, os olhos, os lábios. Era incrível. Uma tinha ficado com o chapéu completamente de banda, outra perdera uma luva na confusão. Depois guardavam os espelhos, acomodavam-se melhor, percorriam com os dedos os anéis duma mão e da outra, para ver se estavam no lugar, se estavam todos. Olhavam umas para as outras, muito sérias, como quem não repara em nada. Recuperavam pouco a pouco a dignidade que aquele despropósito da subida para o carro evaporara.Nas curvas, as rodas chiavam nas calhas, debaixo do grande peso. Silêncio enfim -embora de vez em quando cortado pela campainha, quando alguém tinha a triste ideia de querer descer, pelo desdobrar dos jornais, pela voz dos populares, encaixados na plataforma da frente.Tudo voltara à normalidade. A marcha do carro, a cobrança dos bilhetes, a separação entre as pessoas, que rigorosamente não conseguiam separar-se umas das outras um centímetro que fosse. E, assim, morosamente, por curvas e rectas, por ruas e praças, aquele carro cumpria o seu destino de acarretar gente e ser insultado, numa das várias linhas que ligavam o centro da cidade aos bairros relativamente novos, onde a separação entre a chamada classe média e as camadas mais baixas da população não fora ainda convenientemente estabelecida.Em dada altura, porém, na plataforma de trás levantou-se burburinho. Protestos. Indignação. Cabeças voltaram-se no interior do carro. E viu-se um homenzinho a empurrar toda a gente e a dizer que havia lugares à frente, que o deixassem passar. Em vão lhe asseguravam que não havia lugar nenhum, que não podia passar, que não fosse bruto. O homem empurrava e teimava que havia lugares à frente. Tanto empurrou que furou. Tanto furou que conseguiu entrar no interior do eléctrico, avançou e foi sentar-se num lugar de lado que estava efectivamente vago lá à frente, ao lado duma senhora por sinal opulenta.Foi um espanto geral e silencioso. Ninguém tinha reparado no lugar. E menos que ninguém, como é fácil de compreender, a própria senhora opulenta. Todos os atrevidos têm sorte.O homem, que usava um chapéu coçado e um sobretudo castanho bastante lustroso nas bandas, não se sentou propriamente. Enterrou-se no lugar, com as mãos enfiadas pelas algibeiras dentro. Que sujeito! Devia ser mais novo do que parecia por causa do cabelo grisalho e da barba por fazer. A senhora opulenta franziu a testa e remexeu-se no lugar, se assim se pode dizer, como quem procura ocupar menos espaço. Na verdade, apenas se instalou melhor. A sua intenção era fazer o homenzinho reparar na inconveniência da atitude que tomara. Mas ele não viu nada disso ou fingiu que não viu. Olhou vagamente as pessoas que tinha na frente, estendeu os lábios e começou a assobiar. A assobiar muito à vontade no interior do carro!Primeiro, foi um assobio baixinho, pouco seguro, imperceptível quase. Depois, a pouco e pouco, o sujeitinho entusiasmou-se. E o assobio aumentou de intensidade. Ouvia-se já em todo o eléctrico. Os passageiros, que tinham recuperado com tanto custo a sua dignidade, fingiam que não davam pelo homem nem pelo assobio. E sossegaram quando o condutor se dirigiu ao recém-vindo. Ia aconselhá-lo a calar-se, com certeza. Mas qual! Com o maço dos bilhetes na mão e de alicate espetado, limitou-se a dizer: «O senhor?» O passageiro tirou a mão da algibeira e, sem deixar de assobiar, estendeu-a com a palma voltada para cima. Esperou que lhe levassem a moeda, recebeu o bilhete e tornou a enfiar a mão pela algibeira dentro. Toda a gente seguia a cena, interessada. Mas, quando o homem olhou as pessoas, ao acaso, voltaram todas os olhos como se ele afinal não existisse.O assobio, umas vezes, era baixo, mal se ouvia, outras vezes, alto, muito alto, com trinados ridículos e irritantes. Ninguém sabia o que ele assobiava. E o homem também não. Qualquer coisa que lhe apetecia que fosse assim mesmo. Às vezes repetia os sons como um estribilho. Outras vezes, porém, a maior parte das vezes, passava a novas combinações, ora brandas, ora violentas, sem querer saber para nada das que ficavam para trás. As pessoas começavam a olhar umas para as outras à socapa. Já se tinha visto coisa assim? Um ou outro cavalheiro levantava os olhos do jornal, franzia a testa, fitava com dureza o homem do chapéu coçado e sobretudo castanho, na esperança de que ele, envergonhado, parasse com aquilo. A senhora opulenta, no auge do espanto, nem se atrevia a olhar para lado nenhum, vexadíssima porque, sem ter culpa nenhuma, se encontrava em plena zona do escândalo. A que uma pessoa está sujeita!E, no silêncio do carro, o assobio aumentava de volume. Talvez, no fundo, aquele gorjeio ridículo não fosse desagradável de todo. Simplesmente, um eléctrico não é o local mais próprio para exibições daquelas. Porque não interferiria o condutor? O condutor era a autoridade do carro. Porque não interferiria? Estava-se a ver. Era tão bom como ele. A verdade, porém, é que não se conhecia nenhum regulamento que impedisse os passageiros de assobiar. Colados aos vidros do eléctrico, havia papéis que proibiam fumar, cuspir no carro. Era proibido abrir as janelas durante os meses de Inverno. Mas nem uma palavra a respeito de assobios.De repente, uma criança que ia sentada junto duma janela e já se sentia enfastiada de olhar para a rua interessou-se pelo homem. Achava-lhe tanta graça, com o seu chapéu coçado, o seu sobretudo castanho, o seu assobio... Era uma criança muito pálida, de cabelos louros e encaracolados, vestida de azul. Interessou-se tanto pelo homem que começou a bater palmas. Mas uma senhora nova e bonita, que ia ao lado dela, segurou-lhe as mãos com gentileza e afastou-lhas. Devia ir calada e quietinha. Era muito feio fazer barulho no eléctrico. Uma menina bonita não fazia barulho. «Que disse eu à minha filha?» No entanto, a senhora nova e bonita não antipatizava com o homem. Olhava os embrulhos de papel vistoso que trazia nos joelhos e pensava: se não pudesse mais e começasse também a assobiar? No fundo, admirava a sem-cerimónia do homem do chapéu coçado. Não seria adorável ela própria, uma senhora casada e mãe de uma garota de cinco anos, começar a assobiar num eléctrico se lhe apetecesse? Quando era da idade da filha, a senhora bonita ia muitas vezes ao campo vestida com coisas velhas para poder atirar-se para a relva à vontade. Tinha uma voz muito suave e muito fresca, gostava de fazer precisamente aquilo que uma menina bonita não deve fazer Os amigos do pai pegavam-lhe ao colo, atiravam-na ao ar E ela ria, ria, ria até ficar sufocada. A mãe dizia «Pronto, pronto, vamos a ter juízo, não se ri assim dessa maneira» E, quanto mais lho diziam, mais lhe apetecia rir, rir, rir.De vez em quando, um passageiro saía. A plataforma do carro ia-se esvaziando. E, pouco a pouco, os que ficavam foram-se habituando àquele estúpido assobio Os cavalheiros tinham esquecido os jornais Algumas senhoras sorriam Já se vira um disparate assim? Principalmente a senhora opulenta não podia mais. Apertava os lábios. Sentada num banco de lado, encontrava os olhos de toda a gente. Era irresistível. E a senhora bonita pensava em ar livre e nos tempos da infância. Na escola aprendera a assobiar e a lançar o pião. Havia vozes que tinham ficado dentro dela. «Uma menina a assobiar, Nini?»Em dada altura, o homem, sem deixar de assobiar, levantou-se e puxou o cordão da campainha. Era um homenzinho insignificante, ainda novo e já de cabelos grisalhos, chapéu coçado, sobretudo castanho muito lustroso nas bandas. Mas havia nele uma indiferença soberana pelo eléctrico inteiro Toda a gente o olhava Com desprezo? Com ironia? Com inveja? Abriu a porta, fechou-a e saltou com o carro ainda em andamento.As pessoas voltaram-se então umas para as outras, não resistiram mais e riram mesmo. Que homenzinho patusco! Desculpavam-se, explicavam-se sem palavras Entendiam-se Um minuto de simplicidade e simpatia iluminou-as A criança que batera palmas limpou com a mão o vidro embaciado da janela à procura do estranho passageiro Viu-o atravessar a rua, seguir pelo passeio agarrado às casas, desaparecer.Só então a senhora nova e bonita, que era a mãe da criança, abriu os olhos. Ninguém hoje lhe chamava Nini. Nini era a filha Ela agora é que dizia à filha «Uma menina a assobiar, Nini! Uma menina bonita não faz barulho.»Ficara nos lábios e nos olhos de todos um sorriso de bondosa ingenuidade o Depois esse sorriso foi-se apagando Morreu As pessoas tomaram consciência da sua momentânea quebra de compostura Lembraram-se dos seus embrulhos, dos seus anéis, dos seus jornais Que patetice! Não havia outra palavra para aquilo Que patetice! Os cavalheiros recomeçaram a ler os títulos das notícias. As senhoras deram um toque nas golas dos casacos A criança tornou a olhar para a rua.Tudo voltou, pesadamente, a encher-se de silêncio e dignidade.
Mário Dionísio, In O Dia Cinzento e Outros Contos

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Somos Bi-Campeões Nacionais do "Entre Palavras"



No dia 3 de Junho de 2009, as escolas EB 2,3 Dr. Leonardo Coimbra, da Lixa, e EB 2,3 Augusto Gil, do Porto, participaram na final nacional do V Fórum Entre Palavras do Jornal de Notícias como representantes do Distrito do Porto e sagraram-se vencedores, sendo por isso os Campeões Nacionais 2009.

Durante a manhã, estas escolas apresentaram um primeiro trabalho sobre Homossexualidade- Casamento entre pessoas do mesmo sexo, inspirado num julgamento de um casal homossexual que pretendia casar em Portugal. Os oito alunos participantes representaram a sua peça teatral com tal garra que, entre dezoito distritos participantes, ficaram apurados para a segunda parte do concurso que teve lugar da parte de tarde. Nesta segunda fase a equipa do distrito do Porto apresentou um novo trabalho desta vez sobre o tema Crise Económica e tentou provar a necessidade da intervenção estatal junto das instituições bancárias para evitar a falência das mesmas, uma vez que foram estes o tema e a posição que lhes foram atribuídos.

Numa nova representação teatral conseguiram provar que o bom funcionamento das instituições bancárias é necessário ao desenvolvimento do país e à sobrevivência financeira de todas as famílias portuguesas. Seguiu-se um debate entre as escolas representantes do Distrito do Porto e as escolas representantes do Distrito de Braga, os dois distritos finalistas deste concurso. Este debate foi moderado pela conhecida e experiente apresentadora Fátima Campos Ferreira e teve como convidado especial o Eurodeputado Dr. Silva Peneda.

Após longos minutos de argumentação, exposição e debate de ideias o júri declarou vencedor o Distrito do Porto.

A Escola EB 2, 3 Dr. Leonardo Coimbra é pelo segundo ano consecutivo vencedora nacional deste Fórum de Leitura e Debate de Ideias tendo, como tal, o título de Bi-Campeã Nacional.

Aos oito alunos intervenientes de ambas as escolas do Distrito do Porto e aos professores que os prepararam os mais merecidos Parabéns pelo empenho e dedicação que todo este trabalho acarretou.

De um modo especial, e porque são da nossa escola, ficam os parabéns em sinal de agradecimento para os alunos: Ana Sofia, Daniela, João Pedro e Micael, para os professores que com eles trabalharam: Anabela Brochado, Francisco Correia, Jorge Almeida, Marinela Passos e Paula Nunes e também para a claque que os acompanhou.

Que o exemplo hoje dado por este grupo de alunos e professores seja seguido por muitos e eleve bem alto as palavras Escola e Educação.